Segundo a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), a palavra bullying é um termo em inglês para descrever um ato de violência física, verbal e/ou psicológica, sendo intencional e repetitiva. Tal prática na maioria dos casos está ligada ao contexto escolar, representado por violências físicas, verbais e atitudes pejorativas, que buscam prejudicar a imagem de outra pessoa. Posteriormente a isso, as ações decorrentes do bullying podem levar à alta incidência de violência nas escolas, visto que é o espaço de maior interação entre os jovens, podendo resultar em desafios para a saúde mental, como depressão, ansiedade, fobia e isolamento social.

Com essa interferência na saúde mental e no bem-estar social das crianças e dos jovens, que já estão passando por intensas transformações sociais, comportamentais, emocionais e físicas, a convivência com situações de violência pode interferir profundamente nesses processos de desenvolvimento. Segundo um levantamento realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), cerca de 23% dos brasileiros declararam ter sofrido bullying em algum momento da sua vida. Assim, nesse cenário, esse tipo de violência se apresenta como um problema de saúde pública no Brasil e no mundo.

Essas taxas são muito perigosas, ainda mais se considerarmos que essa depreciação do próximo pode levar a uma autodepreciação, na qual o sujeito que sofre bullying pode aderir a comportamentos prejudiciais a seu bem-estar e crescer com essa dor, caso nunca busque ajuda. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), cerca de 800 mil pessoas cometem suicídio por ano, caracterizando a segunda maior causa de mortes entre jovens na faixa etária de 15 a 29 anos, e o bullying pode estar relacionado a essa estatística.

bullying e a escola – Consequências
Como já dito, o bullying é uma forma de agressão que intimida e humilha uma determinada pessoa. É muito comum discutir sobre isso no ambiente escolar, já que as escolas são ambientes onde crianças e adolescentes vivenciam relações com os pares, refletindo sobre os limites nas relações acerca do que vivenciam para além da escola – lidando com a violência e a exclusão. No entanto, essa discussão muitas vezes é conduzida de maneira errônea por parte da comunidade escolar.

De acordo com um levantamento feito pelo Instituto Sou da Paz no final de novembro do ano passado, desde 2003 o Brasil registrou 11 episódios de ataques com armas de fogo em escolas brasileiras. Por meio das pesquisas apresentadas no Rio de Janeiro pelo psiquiatra estadunidense Timothy Brewerton, entre o ano 1966 a 2011, foram 66 ataques no mundo em escolas em que 87% dos atiradores sofreram bullying nas escolas e foram movidos pelo desejo de vingança.

Mas como essas práticas podem impactar no cotidiano de crianças e adolescentes? A violência escolar é um dos maiores fatores em torno da falta de interesse em permanecer frequentando a escola. O desempenho e a expectativa de aprendizagem daquele aluno, vítima do bullying, tende a ser baixo, uma vez que passará a se sentir desprotegido ao estar naquele espaço, podendo desenvolver ansiedade e outros transtornos psicológicos, assim como transtornos alimentares e até evasão escolar.

De acordo com um estudo realizado pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), mais de 150 milhões de adolescentes entre 13 e 15 anos de diferentes países já tiveram alguma experiência de violência dentro ou ao redor da escola envolvendo seus pares. Além disso, somente no Brasil, 14,8% dos estudantes com idades semelhantes já mencionaram faltar à aula por não se sentir protegidos dentro e fora do ambiente escolar, e outros 7,4% foram vítimas de bullying. Na outra ponta, 19,8% dizem já ter praticado essa violência. Dessa forma, a escola precisa ser vista como um lugar de acolhimento e de escuta para que possa ser um alicerce contra a luta de comportamentos prejudiciais adquiridos por esse problema social.

O que faz um pessoa praticar bullying?
Em casos de bullying, é comum que o foco esteja na vítima e no impacto que as agressões estão causando em sua vida. Porém, é importante lembrar que o agressor/praticante também precisa de ajuda e atenção. Jorge Broide é um psicanalista que estudou o fenômeno da violência entre os jovens e chegou a diversas conclusões interessantes, uma delas sendo que essa violência é também uma forma encontrada pelos jovens de aliviar a profunda dor de problemas pessoais, fazendo com que o indivíduo se expresse por meio da sua hostilidade com o outro.

As motivações podem ser vistas pelo olhar desse psicanalista de outras duas formas: com o objetivo de se mostrar perante a sociedade como alguém de poder, superior à outra pessoa; e como reafirmação social, mostrando que faz parte de um grupo, comportando-se da mesma forma que os outros integrantes. Muitas vezes, o comportamento agressivo pode ser um reflexo do que o indivíduo está passando em casa. Isso pode incluir problemas de relacionamento familiar, falta de apoio emocional e até mesmo situações de abuso. Além disso, o agressor pode estar lidando com suas próprias inseguranças, medos e transtornos psicológicos.

É preciso entender que a prática do bullying pode ser uma forma em que o indivíduo encontrou para lidar com seus próprios conflitos internos, buscando chamar a atenção dos outros e se sentir mais poderoso ou importante. Dessa forma, abordar a situação apenas de forma punitiva e sem considerar as causas por trás do comportamento, é uma medida errônea de lidar com quem faz a prática de bullying, pois não leva em consideração a situação singular de cada pessoa, tanto a pessoa que pratica quanto a que sofre nesse processo.

Violência escolar: Como combater?
bullying se apresenta como um grande desafio para a comunidade escolar, já que algumas ações podem não abranger significativamente as causas dessas práticas e algumas atitudes podem ocultar microagressões que posteriormente tendem a principiar em agressões. No entanto, uma alternativa para o combate o bullying é a discussão e o intento de desenvolver a cultura de paz nas escolas.

Essa alternativa já é objeto de dispositivos legislativos e de discussões por parte de organizações pelo mundo inteiro. No Brasil, por exemplo, foi publicada a Lei nº 13.663, em 2018, que incentiva a promoção de medidas de conscientização, de prevenção e de combate a todos os tipos de violência, especialmente a intimidação sistemática (bullying), no âmbito das escolas, além de a busca por estabelecer ações destinadas a promover a pacificação nesses espaços.

A Organização das Nações Unidas (ONU) traz a cultura de paz como uma proposta para se trabalhar o conflito de forma a possibilitar o diálogo, valorizando a diversidade e os direitos humanos, para a superação das iniquidades que potencializaram, ao longo da história da humanidade, as violências e desigualdades. Gerar essa possibilidade faz com que governos, organizações internacionais e a sociedade civil possam promover uma cultura de paz por meio de um conjunto de valores, atitudes, tradições, comportamentos e estilo de vida baseados no respeito à vida, resolução pacífica de conflitos, redução de desigualdade entre as nações e populações, promoção da democracia, do desenvolvimento dos direitos humanos e das liberdades fundamentais e ao seu cumprimento, sempre reconhecendo a educação como um dos meios fundamentais para sua construção, visto que o conhecimento é um bem que nunca diminui, é sempre crescente.

Logo, pensar em como desenvolver essas atividades em prol da cultura da paz se torna um estímulo, a fim de buscar uma solução para essa e demais violências, para a comunidade escolar. Segundo especialistas do Sistema Positivo de Ensino, algumas dicas pertinentes para esse desenvolvimento eficaz são: a continuidade das ações e intervenções durante todo o ano escolar, não restringindo essas atividades a períodos ou aulas específicas; práticas solidárias, por exemplo, campanhas de arrecadação de alimentos e agasalhos, valorizando o bem comum e senso de empatia; e a promoção de atividades colaborativas, com o intuito de desenvolver competências e/ou valores que auxiliem os estudantes a terem um sentimento de respeito aos saberes diversos das turmas e um pertencimento a construção da identidade escolar.

Uma das ações que promove a paz nas escolas envolve os alunos conversarem com os responsáveis da instituição de ensino para fazer encontros de imersão sobre fazer o bem, entender sobre o bullying e suas consequências, e ainda, onde podem se informar sobre saúde mental compartilhando seus posicionamentos sobre o tema e experiências que passaram. Também é importante uma rede de apoio das instituições para auxiliar as vítimas de violência, bullying, como psicólogos nas escolas, prontos para atender todos os alunos. Em suma, algumas dicas podem nortear algumas de nossas ações, como:

  • Inserir o enfrentamento do bullying e a valorização da diversidade durante o ano escolar, para que as reflexões possam acontecer não apenas em períodos, aulas ou atividades específicas;
  • Campanhas e/ou práticas solidárias, como, por exemplo, campanhas do agasalho ou arrecadação de alimentos, de forma a engajar a comunidade escolar a solidarizar-se com o próximo;
  • Promoção de atividades colaborativas, com o intuito de desenvolver competências e valores que auxiliem os estudantes a respeitar os diversos saberes e momentos das turmas, criando um senso de pertencimento à comunidade;
  • Diálogos com a direção escolar de forma a criar um espaço como uma sala de imersão para fazer o bem, que fomente o compartilhamento de experiências, fortalecendo experiências exitosas e positivas para resolução de problemas;
  • Incentivar a criação de redes de apoio para pessoas vítimas de violência;
  • Implementação da psicologia escolar como forma de fortalecer a rede de apoio e a comunidade escolar para a consolidação de uma cultura de paz.

Acho que agora já entendemos o real perigo do bullying e como precisamos pará-lo, não é mesmo? Não podemos ser coniventes com nenhuma forma de violência e propagar valores pacíficos nas nossas escolas é um bom meio de começar. Vamos acolher os estudantes, valorizar a vida, a educação e a saúde mental, além de nos posicionar contra o preconceito, a discriminação e a violência. Lembremos sempre de propagar o bem para todos os lugares por meio da informação e solidariedade.

Fonte: Unicef

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