O termo atenção plena (mindfulness, em inglês) designa um estado mental que se caracteriza pela autorregulação da atenção para a experiência presente, numa atitude aberta, de curiosidade, ampla e tolerante, dirigida a todos os fenômenos que se manifestam na mente consciente — ou seja, todo tipo de pensamentos, fantasias, recordações, sensações e emoções percebidas no campo de atenção são percebidas e aceitas como elas são. Enquanto que no Contexto budista carrega o significado de manter em mente a informação correta.

O treinamento e aprendizado geralmente se dá através de técnicas de meditação e de outros exercícios afins, permitindo ao indivíduo uma ampla tomada de consciência de seus processos mentais e de suas ações.

Um olhar cuidadoso mostra que é preciso separar o conceito ‘moderno’ de atenção plena, usado na psicoterapia, do conceito de sati no budismo, já que o uso moderno do conceito se mostra uma deturpação que difere largamente do original.

Atenção plena e Sati no Budismo
Na tradição espiritual budista a quarta das Quatro Nobres Verdades refere-se ao caminho que conduz ao fim do sofrimento. As oito seções em que se subdivide esse caminho, chamado por isso Nobre Caminho Óctuplo, apresentam-se divididas em três grupos, o terceiro dos quais (Samadhi, meditação ou concentração) refere-se à disciplina necessária para se obter o controle sobre a própria mente, e assim, o fim do sofrimento. A disciplina meditativa engloba assim três seções: o esforço correto (Samma Vayamo) para melhorar, a Sati correta (Samma Sati) e a meditação correta (Samma Samadhi).

Visão moderna de Sati
Atenção plena desempenha um papel importante em várias formas recentes de psicoterapia, como a terapia comportamental dialética, o programa de redução do estresse baseado na mente alerta e a terapia de aceitação e compromisso.

Em abril de 2016, escritor Vasco Gaspar explicava que era tão simplesmente a “capacidade de estar presente”, o “estar consciente do que se passa à nossa volta”, das emoções que vamos sentindo ao longo do dia e do nosso próprio corpo.

‘Atenção plena’ designa, nesse contexto da interpreção moderna da palavra, um prestar atenção àquilo que é, de momento a momento. A prática da atenção plena ensina a suspender temporariamente todos os conceitos, imagens, juízos de valor, interpretações, comentários mentais e opiniões, conduzindo a mente a uma maior precisão, compreensão, equilíbrio e organização.

Alguns argumentam que o uso psicoterápico de Atenção plena não possua evidências de eficácia.

Mas é preciso um olhar nas raízes do termo, pois pode mostrar um quadro muito mais complexo de seus diferentes usos dependendo do contexto.

Equívoco e visão dos suttas
Há um equívoco profundo que separa o termo Sati no seu uso moderno da psicoterapia e seu uso tradicional budista. Nos suttas do Canon Pali a palavra refere-se ao ato de lembrar/trazer à mente, colocado no sentido de lembrar aquilo que for pertinente, enquanto que o papel de conhecer o momento presente é colocado sob o termo sampajañña, que atua em conjunto com Sati. Neste contexto a tradução de Sati como ‘Atenção plena’ é de uso equivocado, pois este se refere ao uso moderno da palavra e difere largamente de seu uso nos textos tradicionais budistas. Frequentemente o temo sati é usado implicando sati-sampajañña, ambos agindo em coordenação, o que justifica em parte a origem do esquivo que de que sati, por si, é uma qualidade de atenção.

Através de manter em mente o momento presente(sampajañña), trazendo à mente aquilo que for pertinente à situação(sati), a experiência do praticante é moldada não de acordo com suas tendências normais, mas de acordo com a prática do caminho óctuplo. Esta qualidade de Sati pode ser estabelecida nos quatro Satipatthana, ou “quatro quadros de referencia do que lembrar e manter em mente”. Entendendo o corpo como corpo, as sensações como sensações, a mente como mente e os fenômenos como fenômenos. Assim o indivíduo não se deixa levar pelo seu conceito comum de corpo como individuo, mas sim ver o corpo como uma formação de elementos, a não ver as sensações como, por exemplo, emoções dentro de uma história emocional, mas como fenómenos de causa e efeito, surgindo e passando, etc.

Nos ensinamentos budistas tradicionais a qualidade de ‘atenção’/’focar a mente em algo’ nunca é tratada como ‘plena’, mas separada em ‘atenção apropriada’ e atenção ‘imprópria’ (Yoniso manasikāra e ayoniso manasikāra), pois dar atenção a fatores corretos (aumentam as qualidades mentais positivas) e ignorar outros (que aumentem as corrupções e estresse da mente) é equivalente ao desenvolvimento do fator de sabedoria/discernimento (pañña) do caminho octuplo. Assim a relação entre sati e atenção é lembrar ‘a que dar atenção’, como um meditador que deve lembrar-se constantemente de voltar ao seu objeto de meditação e evitar de dar atenção a distrações, e quando a mente se esquecer do processo e ir para outros assuntos, sati tem o papel de lembrar de voltar a atenção ao que é necessário. Uma atenção que fosse ‘plena’ dificilmente teria um papel útil contra distrações.

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