Ser alvo de violência sexual pode prejudicar o bem-estar físico, mental e emocional da vítima e a qualidade das relações que estabelece com as outras pessoas. Muitas vezes a violência sexual não deixa marcas físicas visíveis na vítima. Pelo contrário, as consequências na saúde mental e no bem-estar emocional são frequentemente mais intensas e causam mais desconforto e sofrimento na vítima do que as lesões físicas e ferimentos.

Os efeitos da violência sexual na vítima dependem:

• do tipo, da gravidade e da duração da violência sexual, ou seja, das formas de violência sexual de que foi alvo, se o/a agressor/a usou ou não armas ou força e violência física para consumar o ato, se os atos foram praticados por uma ou mais pessoas e do número de vezes em que aconteceu;
• da relação da vítima com o/a agressor/a, ou seja, se era desconhecido/a, próximo/a ou íntimo/a da vítima;
• da idade da vítima;
• da experiência de vida da vítima e do significado que deu ao que lhe aconteceu, ou seja, se a vítima já teve ou não experiências anteriores em que tenha sido alvo de violência sexual e também se a vítima se culpa ou se acha, de algum modo, responsável pelo que lhe aconteceu;
• do apoio que recebe após contar o que lhe aconteceu e das reações das pessoas mais próximas, isto é, se acreditaram ou não no que contou, se a apoiaram e tentaram protegê-la ou, pelo contrário, se a culparam, responsabilizaram ou desvalorizaram a sua experiência.

Cada vítima reage de forma diferente. Todas as reações são naturais: são uma resposta do organismo a uma experiência de vida difícil, pela qual não se imaginaria ter que passar.

No entanto, podem surgir algumas das seguintes reações e efeitos em diferentes áreas da vida da vítima:

NA SAÚDE FÍSICA:

• Lesões e ferimentos no corpo da vítima, devidos à violência ou força física utilizada pelo/a agressor/a para consumar o ato;
• Lesões e ferimentos causados pela violência sexual propriamente dita, como ferimentos nos órgãos sexuais, dor, corrimento, sangramento, etc.;
• Problemas na saúde sexual e reprodutiva, como infeções sexualmente transmissíveis (ex.: VIH; herpes genital; clamídia); infeções no sistema urinário; dor pélvica; gravidezes indesejadas; aborto;
• Outras consequências negativas para a saúde e que aparecem normalmente depois de a violência sexual ter acontecido, como perda de apetite, dores de barriga, dores de cabeça, insónias e pesadelos durante a noite (associados a pensamentos constantes sobre o que aconteceu).

NO BEM-ESTAR EMOCIONAL E PSICOLÓGICO:

• Choque;
• Desânimo e descrença;
• Sentimentos de vergonha, culpa, raiva, medo, humilhação e impotência;
• Tristeza profunda e apatia;
• Crises de choro e mudanças de humor;
• Ansiedade;
• Confusão;
• Negação, ou seja, recusar acreditar naquilo que aconteceu e evitar pensar ou lembrar o que se passou;
• Pensamentos e lembranças constantes e desconfortáveis sobre o que se passou;
• Medo que ninguém acredite no que aconteceu;
• Medo das reações das pessoas mais próximas quando souberem.

NA SAÚDE MENTAL:

• Depressão;
• Perturbação de Stress Pós-Traumático;
• Outras Perturbações de Ansiedade, como ataques de pânico, fobias;
• Distúrbios de sono;
• Dependência de substâncias;
• Perturbações ao nível da função sexual sem causa médica subjacente, como: aversão sexual, redução do desejo sexual, dor genital ou pélvica profunda durante os atos sexuais praticados depois da experiência de violência sexual, contrações involuntárias durante os atos sexuais praticados depois da experiência de violência sexual.

NO COMPORTAMENTO E NA QUALIDADE DAS RELAÇÕES:

• Maior isolamento ou afastamento em relação a pessoas próximas;
• Desconfiança em relação às intenções das outras pessoas;
• Maior dificuldade em relacionar-se com os outros;
• Deterioração na qualidade da relação com o/a seu/sua parceiro/a íntimo, sobretudo no que diz respeito à vida sexual;
• Desinteresse por atividades e gostos anteriormente apreciados.

Fonte: APAV